Dados do Trabalho

Título

NECROSE EPIDERMICA TOXICA: RELATO DE COMPLICAÇAO CRONICA OCULAR

Resumo

Necrose Epidérmica Tóxica (NET) constitui uma patologia inflamatória aguda com acometimento cutâneo e mucoso, incluindo mucosa ocular. Em geral, a NET apresenta acometimento maior que 30% de superfície corpórea, o que diferencia clinicamente da síndrome de Steven-Johnson. O processo fisiopatológico é mediado sobretudo por linfócitos CD8, culminando com apoptose de queratinócitos. ¹, ² A incidência da NET é de 0,4 a 1,2 casos a cada 1 milhão de pessoas. ¹, ³

Medicamentos são a principal etiologia, sendo responsável por cerca de 80% dos casos. Dentre os exemplos mais comuns encontram-se anticonvulsivantes e sulfonamidas. ¹ Segue relato de caso sobre acometimento ocular crônico após NET.

Paciente masculino, com diagnóstico de Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA), internado em fevereiro de 2024 com NET após uso de fenitoína e sulfametoxazol com trimetoprim. Em abril de 2024, paciente evoluiu com hiperemia, epífora e filme lacrimal espessado. À biomicroscopia, ceratopatia ponteada difusa severa, sendo mais proeminente em olho esquerdo, além de ressecamento de conjuntivas as quais coram com fluoresceína. Iniciado tratamento com colírio lubrificante sem conservantes, corticoide tópico por 14 dias, gel lubrificante. Paciente reavaliado em seu 7° e 14° dia de tratamento apresentando melhora do quadro. Estabelecida reavaliação periódica com oftalmologia para seguimento do quadro.

A mucosa ocular é uma das mais frequentemente acometidas na NET. Isto ocorre tanto na sua fase aguda quanto em fase crônica após a doença. Inicialmente, pode ocorrer conjuntivite purulenta, ulceração corneana e uveíte. 1, 3, 4, 5, 6
Posteriormente ao quadro agudo, surgem sequelas oculares. Dentre elas, olho seco, simbléfaro, entrópio e ectrópio, triquiase e conjuntivalização da córnea. O olho seco é a complicação crônica mais frequente na NET, acometendo glândulas lacrimais, podendo ocorrer mesmo em pacientes que não apresentaram acometimento ocular no período agudo. 6,7, 8, 9

Dentre as condutas mais importante para quadros crônicos estão a lubrificação adequada ocular e o seguimento com oftalmologista. Alguns procedimentos podem ser indicados a depender da clínica como “Patch” corneano, transplante de mucosa, lente de contato terapêutica. 2, 5

Sendo assim, o caso relatado trata de uma complicação oftalmológica crônica possível em paciente com NET. O quadro de ceratite severa devido olho seco necessita de tratamento adequado visando prevenção de complicações e evolução negativa.

Referências Bibliográficas

1) WONG A.; MALVESTITI A.A; HAFNER M. F. S. Síndrome de Stevens-Johnson e necrólise epidérmica tóxica: revisão. Rev. Assoc. Med. Vol. 62 (5); Agosto de 2016. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/ramb/a/D75h5BfLmz5Tw5JnMTXtPjF/#
2) BULISANI ACP, SACHES GD; GUIMARÃES HP; LOPES D; VENDRAME LS; LOPES AC. Síndrome de Stevens-Johnson e Necrólise Epidérmica Tóxica em Medicina Intensiva. Revista Brasileira de Terapia Intensiva. Vol. 18 (3). Julho – Setembro, 2006. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbti/a/kfPDx5VRtPLCFqWvPKqmpFH/?format=pdf&lang=pt
3) OLIVEIRA A; SANCHES M; SELORES M. O espectro clinico da síndrome Steven-johnson e Necrólise epidérmica toxica. Acta Med Portuguesa. Vol 24: 995-1002p. 2011.
4) CABRAL L; DIOGO C; RIOBOM F; TELES L; CRUZEIRO C.et al. Necrolise epidérmica toxica (síndrome de Lyell): uma patologia para as unidades de queimados. Acta Med Portuguesa. Vol 17; 129-140 p. 2004. Disponível em:
https://www.researchgate.net/publication/277172993_Necrolise_Epidermica_Toxica_Sindrome_de_Lyell_uma_patologia_para_as_Unidades_de_Queimados
5) FRANCA MD; LIMA JPG; FREITAS D; CUNHA M; GOMES JAP. Estudo dos achados oculares na síndrome de Stevens-Johnson em pacientes de centro de referência de atendimento terciário. Arq. Bras. Oftalmol. Vol 72 (3); Jun 2009. Disponível em: https://www.scielo.br/j/abo/a/HqXS6mCpw9xvPWcvb8Fd3Lr/
6) NETO FCS; PICCININI PS; ANDARY JM; SARTORI LD; CANCIAN LT; UEBEL CO; OLIVEIRA MP. Abordagem cutânea na necrólise epidérmica tóxica. Rev. Bras. Cir. Plást. Vol 32 (1); Jan-Mar 2017. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbcp/a/ghjDx6PqMPH9NBYTSnYDDYr/?lang=pt#
7) HENG JS , MALIK N , JOSHI N. A gravidade do envolvimento ocular agudo está independentemente associada ao tempo de resolução da doença ocular em pacientes com necrólise epidérmica tóxica. Jornal Britânico de Oftalmologia; Vol 99: 251-254 p. 2015.
8) MORALES ME, PURDUE GF, VERITY SM, ARNOLDO BD, BLOMQUIST PH. Ophthalmic Manifestations of Stevens-Johnson Syndrome and Toxic Epidermal Necrolysis and Relation to SCORTEN. Am J Ophthalmol. Vol 150 (4). 2015. Disponível em:
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/20619392/
9) BASU S, SHANBHAG SS, GOKANI A, KEDAR R, BAHUGUNA C, SANGWAN VS. Chronic Ocular Sequelae of Stevens-Johnson Syndrome in Children: Long-term Impact of Appropriate Therapy on Natural History of Disease. Am J Ophthalmol. Vol 189: 17-28 p. Maio de 2018. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/29421293/