Jornada Paulista de Oftalmologia (UNICAMP)

Dados do Trabalho


Título

CATARATA ESTRELADA SECUNDARIA AO USO CRONICO DE CLORPROMAZINA: RELATO DE CASO

Resumo

A clorpromazina, antipsicótico utilizado há décadas, é uma medicação muito empregada no tratamento de psicoses, especialmente em casos de esquizofrenia. O uso crônico da clorpromazina pode causar efeitos adversos sistêmicos e também oculares, diretamente relacionados à duração da exposição e à dosagem utilizada. A avaliação regular da saúde ocular dos pacientes que recebem esse medicamento é de suma importância, a fim de detectar precocemente tais efeitos. Mulher, 35 anos, com diagnóstico de atraso do desenvolvimento neuropsicomotor, hipotireoidismo e sinais de esquizofrenia desde os 14 anos, compareceu ao ambulatório de Córnea da Universidade Estadual Paulista (UNESP) com queixa de baixa acuidade visual progressiva em ambos os olhos (AO) há 2 anos. Em uso de: clorpromazina 400mg/dia (nesta dosagem há 8 anos; já usou doses menores pelo menos 2 anos antes), ácido valpróico 1500mg/dia, Diazepam 10mg/dia, amitriptilina 50mg/dia , sertralina 100mg/dia , Puran T4 100 mcg/dia e omeprazol 20mg/dia, por via oral. Quanto aos antecedentes oftalmológicos prévios, destaca-se o acompanhamento no ambulatório de Retina da UNESP em investigação para Doença de Stargardt. Ao exame oftalmológico: Acuidade visual (AV) corrigida: 20/100, no olho direito (OD) e 20/70, no olho esquerdo (OE) - porém, paciente mal-informante. Biomicroscopia AO: córnea com finos depósitos endoteliais esparsos, de coloração amarronzada; finos depósitos pigmentados dispostos em formato de estrela sobre a cápsula anterior do cristalino. Pressão intraocular (PIO) AO: 12mmHg. Fundo de olho AO: mácula com perda do brilho foveal; presença de múltiplos pontos hipercrômicos subrretinianos, inclusive acometendo mácula e fóvea. Após uma avaliação oftalmológica abrangente e a exclusão de outras possíveis causas desses depósitos intraoculares, responsabilizou-se o uso crônico da clorpromazina pelos achados. A paciente foi orientada quanto à alteração apresentada e encaminhada ao ambulatório de Catarata para seguimento. Elaborou-se também uma carta ao serviço de Psiquiatria informando a respeito do efeito adverso e solicitando a avaliação quanto à possibilidade de troca da medicação ou redução da dose. O uso de clorpromazina a longo prazo e em altas dosagens está associado ao aparecimento de alterações oculares. Como no caso apresentado, as alterações do cristalino e córnea surgem tipicamente após o uso do medicamento por mais de 5 anos e/ou em quantidade acumulada maior que 2.000g, e são comumente descritas como depósitos de pigmentos amarronzados na cápsula anterior do cristalino. O comprometimento da acuidade visual pode ser variável, como no caso em questão. O caso apresentado reforça a importância do acompanhamento oftalmológico periódico de usuários crônicos de clorpromazina para o rastreio de alterações oculares, atentando-se à posologia, tempo de exposição e dosagem cumulativa da mesma.

Área

Catarata

Autores

JOSE PEREIRA DO REGO NETO, GABRIELLA PACHU DE OLIVEIRA ZAMPIERI, MIKHAEL ADRIAN XAVIER DA SILVA, ALVIO ISAO SHIGUEMATSU