Jornada Paulista de Oftalmologia (UNICAMP)

Dados do Trabalho


Título

TRAÇAO VITREO-MACULAR COM RESOLUÇAO ESPONTANEA

Resumo

Apresentação do caso
Feminino, 67 anos, com queixa de piora da acuidade visual em olho esquerdo há 1 mês. Referia acompanhamento frequente por glaucoma, sem outros antecedentes. Melhor acuidade visual de 20/20 em olho direito e 20/50 em olho esquerdo. Biomicroscopia de segmento anterior e fundo de olho sem anormalidades. À tomografia de coerência óptica (OCT) macular foi evidenciada tração vítreo-macular (TVM) em formato de V, com espessura macular em região foveal medindo 273 µm, perda da anatomia foveal normal e modificação se comparado a exames anteriores. Foi optado por acompanhamento clínico e após 1 mês a paciente evoluiu com acuidade visual 20/20 e completa resolução da TVM espontaneamente.

Discussão
O vítreo é um gel responsável pela estabilização do globo ocular; suas fibras de colágeno são firmemente aderidas entre o córtex posterior do vítreo e a membrana limitante interna, especialmente na região da fóvea. Com o envelhecimento, o vítreo natural e progressivamente passa por um processo de liquefação, o que, em geral, resulta na destruição da rede de colágeno-hialuronato da interface vítreo-retiniana, com completa separação entre essas estruturas. O gel vítreo passa a ocupar posição mais anterior na cavidade vítrea. Em alguns casos, há falha nesse processo, com manutenção de adesão e tração entre o vítreo e algumas estruturas da retina, entre elas a mácula, tal como no caso relatado. Podem acompanhar o quadro presença de pseudocistos, esquise macular, edema macular cistóide e líquido subrretiniano. Os pacientes com TVM podem ser assintomáticos ou apresentar diminuição da acuidade visual, borramento visual, metamorfopsia, microspsia e fotopsia.
Os casos de TVM podem ser classificados de acordo com a forma visualizada no OCT macular: em formado de V ou J, estando o córtex do vítreo posterior aderido somente a fóvea e desprendido da retina nasal e temporal nos casos de formato em V, e aderido da retina nasal a fóvea, mas desprendido da retina temporal no formato em J. Outra classificação propõe a divisão dos casos de acordo com a extensão da adesão, sendo uma tração ≤500 μm uma síndrome de tração foveolar, e por volta de 1500 μm de extensão da adesão uma síndrome de TVM clássica.
É recomendado que inicialmente o manejo desses casos se inicie com acompanhamento clínico por pelo menos 3 meses, em pacientes com sintomas leves, pois cerca de 10-11% dos casos de TVM se resolvem espontaneamente sem realização de intervenções, assim como no caso relatado. A realização de vitrectomia posterior via pars plana também é uma alternativa terapêutica com melhora significativa da acuidade visual. Os fatores preditores de resultados favoráveis no pós operatório são: morfologia em V, TVM perifoveal focal, menos de seis meses do início dos sintomas, edema macular cistóide tracional, acuidade visual superior a 20/100. No caso relatado, apesar da morfologia em V observada no OCT os sintomas eram leves e o quadro de início recente, por isso foi optado por tratamento expectante com desfecho satisfatório.

Comentários finais
Relatamos um caso de paciente com tração vítreo-macular com resolução espontânea. Esse caso chama a atenção para a possibilidade de tratamento expectante em pacientes com TVM, devendo-se estar atento, ao optar entre tratamento clínico ou cirúrgico aos fatores associados a melhor desfecho expectante, sintomas leves e início recente, assim como aos fatores preditores de desfecho cirúrgico favorável.

Área

Retina

Autores

MARIANA COZIMO NUNES, HIGOR ALEXANDRE PAVONI GOMES, JULIA COSTA GARCIA, ANDRÉ LUIZ SITA E SOUZA BRAGANTE