Jornada Paulista de Oftalmologia (UNICAMP)

Dados do Trabalho


Título

PARALISIA DE III PAR CRANIANO SECUNDARIA A NEURITE POR HERPES-ZOSTER VIRUS

Resumo

Objetivo:
A manifestação ocular secundária a infecção por Herpes-Zoster Vírus é um diagnóstico rotineiro porém por vezes desafiador no pronto-atendimento oftalmológico. O acometimento de III Par Craniano é uma urgência oftalmológica, e, apesar de pouco comum, está associado a uma maior morbi-mortalidade e deve, portanto, ser corretamente avaliado e manejado a fim de se reduzir possíveis sequelas associadas ao quadro.

Relato de Caso:
Paciente, M.B, 83 anos, feminino, procedente de Guariba (SP).
Compareceu na Unidade De Emergência do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, com quadro de cefaleia, hiperemia e dor ocular à direita há 20 dias. Tratado por clínico como infecção por Herpes-Zoster Vírus (HZV) com Aciclovir 800mg/dia. Paciente diabética há 30 anos, com história de paralisia facial periférica há 20 anos. Negava antecedentes oftalmológicos.
Ao exame de OD: apresentava acuidade visual sem correção de 20/200 ; ectoscopia com lesões vesiculares cicatrizadas em hemiface direita além de edema e ptose palpebral; anisocoria com pupila direita midriática e bradirreagente a luz e dissociação luz-perto; MOE com restrição a supraversão, depressão e adução, porém com abdução preservada. OE: apresentava acuidade visual sem correção de 20/80, MOE sem alterações. Na biomicroscopia de ambos os olhos, apenas catarata N3+. Tonometria e fundoscopia de ambos os olhos sem alterações. Solicitada avaliação à neurologia, sendo afastado oftalmoplegia internuclear (OIN) e quadro isquêmico encefálico agudo. Tomografia Computadorizada (TC) de crânio sugerindo celulite pré-septal, sem processos expansivos; AngioTC com realce de contraste em Artéria Cerebral Média; Líquor com padrão linfomononuclear, sem crescimento Gram e virulogia em processamento. Levantada hipótese de Síndrome do III Par completo à direita por neurite por HZV, e iniciado tratamento empírico com Aciclovir EV 10mg/kg 8/8h por 14 dias, Prednisona oral 40mg/dia e Gabapentina 300mg/dia e internação hospitalar. Durante internação apresentou PCR positivo para Herpes-Zoster em LCR. Descartado hipótese de vasculite herpética de SNC e Arterites em geral, como Arterite de Células Gigantes após realização de angioRNM Vessel-Wall e avaliação reumatológica, sendo mantida hipótese de neurite por HVZ. Em relação ao quadro do III Par, permaneceu ao longo da internação com midríase fixa com pupila bradirreagente e mantendo padrão de restrição de MOE à direita. Ao final do tratamento, devido melhora do quadro geral, optado por alta hospitalar. Conversado com família sobre lesão III Par ser provavelmente irreversível e orientado seguimento conjunto com oftalmologia, neurologia, endocrinologia e fisioterapia.

Conclusão:
O acometimento de III Par Craniano por Vírus Varicela-Zoster pode ocasionar sequelas oculares com prejuízo funcional e visual importante. O correto diagnóstico e manejo desses casos é de suma importância para o prognóstico do paciente. A abordagem multidisciplinar com múltiplas especialidades pode evitar uma má evolução do quadro e auxiliar na reabilitação desses pacientes.

Área

Neuro Oftalmo

Autores

MARCELO MOUACCAD PERES, PEDRO HENRIQUE OGATA KODAMA, DIEGO ROCHA GUTIERREZ