Jornada Paulista de Oftalmologia (UNICAMP)

Dados do Trabalho


Título

LIPOFUSCINOSE CEROIDE NEURONAL: UM RELATO DE CASO

Resumo

Apresentação do Caso

Masculino, 20 anos de idade, adotado na primeira infância, começou aos 3 anos com alterações comportamentais e dificuldades de aprendizagem. Aos 10 anos de idade, começou a apresentar incoordenação, perda progressiva da acuidade visual e convulsões. O exame clínico e neurológico revelou hipertelorismo, fossas pré-auriculares, microcefalia, disartria, movimentos coreicos orofaciais e ataxia cerebelosa. Ao exame oftalmológico, motilidade ocular extrínseca preservada, pupilas isocóricas e fotorreativas, ausência de defeito pupilar aferente relativo. A acuidade visual corrigida era de 20/200 em olho direito (OD) e 20/100 em olho esquerdo (OE). Exame biomicroscópico sem alterações relevantes. Fundo de olho de ambos os olhos (AO) com palidez temporal inferior sutil, com diminuição do calibre arteriovenoso. Foi, então, realizado imagem de autofluorescência azul, a qual não demonstrou alterações. Além disso, realizou-se campo visual com perda difusa de sensibilidade e OCT macular com perda difusa das camadas externas da retina. O ERG de campo total (Diagnosys LLC) foi registado de acordo com as recomendações padrão do ISCEV, com um protocolo adaptado ao escuro (20 min no escuro) utilizando flashes de luz branca em dois passos (0,01 e 3,0 cd.s/m2) e um protocolo adaptado à luz (10 min. 30 cd.s/m2) utilizando flashes de luz branca (6.500 K; 4 ms) em 2 passos (3,0 cd.s/m2) e flicker 30Hz, com resultados mostrando respostas diminuídas em todas as fases testadas. A eletrorretinografia (ERG) mostrou uma fase escotópica abolida e uma fase fotópica subnormal na ERG de campo total e uma amplitude reduzida do limiar foveal em AO na ERG multifocal. Dessa forma, após a exclusão de doenças infecciosas com testes sorológicos negativos, houve uma suspeita diagnóstica de distrofia dos bastonetes. O doente foi também submetido a investigação com estudos laboratoriais, genéticos e imaginológicos. A ressonância magnética do cérebro mostrou atrofia cerebelar. O eletroencefalograma realizado aos 18 anos de idade mostrou uma desorganização moderada da atividade basal. A sequenciação completa do exoma identificou uma variante nonsense classe 4 homozigótica no gene GRN (p.I235FS), uma alteração associada à lipofuscinose ceróide neuronal tipo 11, concluindo o diagnóstico.

Discussão

As lipofuscinoses ceróides neuronais (LCN) são um grupo de doenças neurodegenerativas geneticamente determinadas, caracterizadas pelo acúmulo de pigmento ceróide nos lisossomas, levando a disfunções neurológicas e orgânicas. Até à data, foram descritos 14 tipos distintos, com variabilidade genotípica e fenotípica. A NCL11 é extremamente rara. As variantes bialélicas patogênicas no gene da progranulina (GRN) são uma causa conhecida. Clinicamente, a NCL11 apresenta-se na segunda década de vida com ataxia cerebelosa, epilepsia, retinite pigmentosa, declínio cognitivo e perda de visão devido a distrofia da retina.

Comentários Finais

A NCL 11 é extremamente rara e descrevemos as características clínicas e laboratoriais identificadas no nosso doente. A real prevalência desta doença na população brasileira permanece desconhecida e estudos adicionais precisam ser realizados.

Área

Retina

Autores

LEONARDO LUIS CASSONI, MOISES MOURA LUCENA, RENATA DO AMARAL MORETO CARAVELLAS, RODRIGO JORGE, ARTHUR SAMPAIO ZUPELLI, RAFAEL MONTANHOLI MARTINS