Dados do Trabalho
Título
ULCERA EM ESCUDO EM CERATOCONJUNTIVITE VERNAL UNILATERAL: RELATO DE CASO
Resumo
A ceratoconjuntivite vernal (CCV) é um distúrbio inflamatório alérgico, crônico, grave de acometimento bilateral da superfície ocular, mais prevalente no sexo masculino e em regiões de clima tropicais1. Inicia-se, geralmente, antes dos 10 anos, apresentando recorrências ao longo da vida1,2.
Paciente, sexo feminino, 9 anos, encaminhada por conjuntivite em olho direito (OD) sem melhora com uso de tobramicina por 2 semanas. Em avaliação oftalmológica, informa prurido ocular crônico em OD, que evoluiu com piora associado a dor e fotofobia. A acuidade visual sem correção (AVSC) era 20/50 em OD e 20/25 em olho esquerdo (OE). Pela biomicroscopia apresentava papilas gigantes, em formato paralelepípedo, na pálpebra superior de OD, micropapilas em OE, além de infiltrado paracentral superior que corava com fluoresceína em OD. Sem demais alterações no segmento anterior de ambos os olhos. Questionado sobre alergias e posição de dormir – Pais informam que a posição preferencial é em decúbito lateral direito. Realizado desbridamento mecânico da úlcera com prescrição de moxifloxacino e prednisona tópicas 4 vezes ao dia e mudança no ambiente e hábitos de vida. Seguimento ambulatorial com melhora parcial da reação papilar gigante e formação de haze corneano. Após 2 semanas, foi substituído os colírios, por tacrolimus 0,02% aquoso 3 vezes ao dia associado a olopatadina. Quadro manteve-se estável, nos retornos seguintes, com paciente sem queixas e melhora da AVSC 20/30 e 20/20, respectivamente, em OD e OE.
A CCV acomete a conjuntiva e a córnea em três formas clínicas: limbal, palpebral e mista.5 Apesar do acometimento típico ser bilateral, formas palpebrais, unilaterais, podem ser observadas em 3% dos casos, como no descrito.3,5 O mecanismo fisiopatológico dessa inflamação crônica envolve eosinófilos, linfócitos e outras estruturas celulares, mantendo relação com atopia.2 Contato com alérgenos devem ser questionados, inclusive, sobre a posição de dormir, podendo, assim, elucidar o caso clínico.
O curso crônico e recorrente da doença, torna o tratamento desafiador. Esteroides apresentam alta eficácia, mas o uso crônico deve ser evitado e substituído por imunomoduladores como ciclosporinas e tacrolimus pelo risco de complicações.4,5Dano visual progressivo e permanente, pode ocorrer pela formação de cicatrizes corneanas, astigmatismo e glaucoma cortisônico.4 A úlcera em escudo, por exemplo, apesar de superficial, tem reepitelização lenta e potencial para gerar até perfuração.5
Referências Bibliográficas
1- Vichyanond P, Pacharn P, Pleyer U, Leonardi A. Vernal keratoconjunctivitis: a severe allergic eye disease with remodeling changes. Pediatr Allergy Immunol. 2014 Jun;25(4):314-22.
2- Bonini S, Bonini S, Lambiase A, Marchi S, Pasqualetti P, Zuccaro O, Rama P, Magrini L, Juhas T, Bucci MG. Vernal keratoconjunctivitis revisited: a case series of 195 patients with long-term followup. Ophthalmology. 2000 Jun;107(6):1157-63.
3- Sofi RA, Mufti A. Vernal Keratoconjunctivitis in Kashmir: A temperate zone. Int Ophthalmol. 2016 Dec;36(6):875-79.
4- Singhal D, Sahay P, Maharana PK, Raj N, Sharma N, Titiyal JS. Vernal Keratoconjunctivitis. Surv Ophthalmol. 2019 May-Jun;64(3):289 311.
5- Ghiglioni DG, Zicari AM, Parisi GF, Marchese G, Indolfi C, Diaferio L, Brindisi G, Ciprandi G, Marseglia GL, Miraglia Del Giudice M. Vernal keratoconjunctivitis: An update. Eur J Ophthalmol. 2021 Nov;31(6):2828-42.
Área
CÓRNEA (Trabalhos)
Instituições
HC-UFTM (Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Triângulo Mineiro) - Minas Gerais - Brasil
Autores
FILLIPE LAIGNIER RODRIGUES DE LACERDA, NATÁLIA DARC QUEIROZ PIMENTA, GABRIELA XAVIER REZENDE, PEDRO SOARES CORREA, FERNANDA CAROLINA SILVA