Dados do Trabalho
Título
GLAUCOMA SECUNDARIO GRAVE APOS VITRECTOMIA VIA PARS PLANA PARA TRATAMENTO DE DESCOLAMENTO DE RETINA
Resumo
Introdução:
A vitrectomia via pars plana (VVPP) é uma cirurgia oftalmológica comum, sendo fator de risco para elevação aguda ou crônica da pressão intraocular (PIO) e desenvolvimento de glaucoma secundário (GS) por diferentes mecanismos (seja por ângulo aberto ou fechado). Estima-se que 15 a 20% dos pacientes evoluam com glaucoma, com maior incidência nos pseudofácicos.
Caso clínico:
LGF, feminino, 48 anos, apresentou extenso descolamento de retina (DR) em região temporal inferior do olho esquerdo (OE). Acuidade visual (AV) de 20/20 e PIO de 15/15 mmHg em ambos os olhos (AO) no momento do exame. Submetida à fotocoagulação a laser de urgência, entretanto evoluiu com extensão do DR. Realizada VVPP associada a endolaser, perfluorcarbono e óleo de silicone (OS) (fig. 1 e 2). Desenvolveu intensa inflamação no pós-operatório com elevação importante da PIO (50 mmHg), necessitando de retirada do OS e injeção de gás para manter a retina aplicada. Tratada com hipotensores tópicos e orais, anti-inflamatórios e corticoesteroides tópicos, porém evoluiu progressivamente com GS grave no OE. Atualmente, possui campo visual tubular no OE (fig. 3 e 4), presente apenas nos 5 graus centrais (MD 22,3 e sLV 8,1) e AV de 20/40. Mantém uso de hipotensores oculares, com PIO controlada.
Discussão:
A elevação da PIO e glaucoma secundário após VVPP geralmente é multifatorial. O uso de OS pode provocar bloqueio pupilar (BP), inflamação, fechamento angular por sinéquias, migração de óleo para a câmara anterior (CA), com obstrução do trabeculado, e glaucoma idiopático de ângulo aberto. Injeção de gases expansíveis na cavidade vítrea pode produzir deslocamento anterior do diafragma iridolenticular, levando a GS de ângulo fechado, com ou sem BP, principalmente durante o período de expansão máxima do gás. Inflamação intensa no pós-operatório propicia formação de sinéquias e neovascularização angulares. A perda do efeito protetor do vítreo removido permite maior difusão de oxigênio da cavidade vítrea para a CA, levando a estresse oxidativo do trabeculado, redução do escoamento do humor aquoso e aumento da PIO.
Conclusão:
Seguimento cuidadoso de pacientes após VVPP é mandatório, não só pela condição de base que exigiu o procedimento, mas pelo maior risco de evolução para GS. Intervenção precoce com hipotensores, procedimentos a laser ou cirúrgicos é crucial para o prognóstico visual. Entretanto, a evolução para glaucoma terminal pode ocorrer a despeito do tratamento médico.
Referências Bibliográficas
1. Rossi T, Ripandelli G. Pars Plana Vitrectomy and the Risk of Ocular Hypertension and Glaucoma: Where Are We? Journal of Clinical Medicine. 2020 Dec 10;9(12):3994.
2. Kornmann HL, Gedde SJ. Glaucoma management after vitreoretinal surgeries. Current Opinion in Ophthalmology. 2016 Mar;27(2):125–31.
Área
GLAUCOMA (Trabalhos)
Instituições
IPSEMG - Instituto de Previdência dos Servidores do Estado de Minas Gerais. - Minas Gerais - Brasil
Autores
BEATRIZ MIRANDA ASSIS, GIZELI HORTA DE OLIVEIRA