Dados do Trabalho
Título
EPIDEMIA NEGLIGENCIADA: ESPOROTRICOSE NO BRASIL - O QUE TODO OFTALMOLOGISTA DEVE SABER E RELATO DE SERIE DE CASOS.
Resumo
A esporotricose é uma micose subcutânea causada por fungos do complexo Sporothrix ssp. Apresenta evolução geralmente subaguda a crônica e manifesta-se em diversas formas clínicas, como cutânea, linfocutânea, extracutânea e sistêmica. Embora a forma cutânea seja a mais comum, a forma ocular tem sido diagnosticada com mais frequência nos últimos anos, especialmente em regiões endêmicas. (1,2)
Relatamos três casos de esporotricose ocular em pacientes imunocompetentes atendidos em um serviço de urgência oftalmológica em Belo Horizonte, no ano de 2022. Os pacientes tinham 8, 26 e 71 anos de idade e apresentavam principalmente conjuntivite granulomatosa, sendo que um deles também apresentava linfoadenopatia pré-auricular ipsilateral. Todos os pacientes relataram contato intradomiciliar com gatos.
O diagnóstico foi realizado por raspado da lesão e estudo microbiológico em dois casos, enquanto no terceiro caso, devido a um resultado inconclusivo, foi realizado um tratamento de prova com itraconazol. Os três pacientes foram tratados com itraconazol sob acompanhamento da infectologia, o que resultou na resolução do quadro.
A esporotricose pode ser transmitida ao ser humano por implantação traumática do fungo na pele, contato com gotículas de secreções contaminadas ou contato direto com lesões ulceradas. A conjuntiva é o principal local de acometimento ocular pela esporotricose, manifestando-se como a síndrome óculo-glandular de Parinaud, caracterizada por conjuntivite granulomatosa unilateral e linfoadenopatia ipsilateral. Outras manifestações oculares incluem coroidite multifocal e endoftalmite, mais comumente associadas à disseminação hematogênica em pacientes imunossuprimidos.(1-3)
O tratamento da esporotricose varia de acordo com a forma da doença, sendo o itraconazol o fármaco de escolha por um período de 3 a 6 meses. Em casos de doença disseminada ou resistentes ao itraconazol, a anfotericina B intravenosa é o tratamento preferencial. (4,5)
É importante considerar a esporotricose como diagnóstico diferencial em casos de conjuntivite com características ou evolução atípicas, especialmente em regiões metropolitanas onde a doença está se tornando mais comum. Devido à necessidade de raspado da lesão para estudo microbiológico e ao tratamento dispendioso e prolongado, a confirmação diagnóstica é essencial para evitar tratamentos empíricos. A história de contato com animais, especialmente gatos, deve sempre ser investigada.
Referências Bibliográficas
1. Furtado LO, Biancardi AL, Cravo LMS, Anjo RPP, Moraes Junior HV. Esporotricose ocular: manifestações atípicas. Rev Bras Oftalmol. 2019; 78 (1): 59-61.
2. Lima RM, Silva WLF, Lazzarini JA, Raposo NRB. Esporotricose brasileira: desdobramentos de uma epidemia negligenciada. Rev. APS. 2019; abr./jun.; 22 (2)
3. Santos AF, et al. Guia Prático para enfrentamento da Esporotricose Felina em Minas Gerais. Revista V&Z Em Minas | Ano XXXVIII | Número 137 | Abr/Mai/Jun 2018
4. Secretaria de Saúde. Esporotricose - Protocolo de enfrentamento em Belo Horizonte. 2018
5. Yamagata JPM, Rudolph FB, Nobre MCL, Nascimento LV , Sampaio FMS, Arinelli A, Freitas DF. Ocular sporotrichosis: A frequently misdiagnosed cause of granulomatous conjunctivitis in epidemic áreas. J.P.M. American Journal of Ophthalmology Case Reports 8 (2017) 35-38.
6. Kauffman CA. Old and news therapies for sporotrichosis. Clin infect Dis. 1995;21(4): 981.
7. Kauffman CA, Bustamante B, Chapman SW, Pappas PG. Clinical Practice Guidelines For The Management Of Sporotrichosis: 2007 Update By The Infectios Disease Society Of America. Clin Infect. Dis. 2007; 45(10):1255
Área
GERAL (Trabalhos)
Instituições
SANTA CASA DE MISERICORDIA DE BH - Minas Gerais - Brasil
Autores
MARCELA BATISTA LOPES, VINICIUS TORRES LEITE, ISADORA ROCHA DE PAIVA, RAPHAEL COELHO SANTOS, GLAUBER COUTINHO ELIAZAR