Dados do Trabalho
Título
ENXAQUECA RETINIANA COMPLICADA COM PERDA VISUAL PERMANENTE - UM RELATO DE CASO
Resumo
INTRODUÇÃO: A enxaqueca retiniana (ER) é uma variante rara da migrânea caracterizada por episódios de cefaleia associados a manifestações neuro-oftalmológicas, como perda visual (PV) monocular reversível, cintilações e escotomas(1). A fisiopatologia ainda é obscura, sendo as hipóteses mais aceitas as de vasoespasmo retiniano (VR) e depressão cortical alastrante na retina(2). ER acomete mais mulheres na 2º e 3º década de vida com histórico de migrânea(3). O objetivo do presente caso é relatar uma rara ocorrência de PV permanente secundária a ER.
DESCRIÇÃO DO RELATO DE CASO: Médica, 25 anos, apresentou cefaleia intensa, PV binocular transitória seguida de PV persistente em olho esquerdo (OE), por 3 semanas. Descreveu episódios de cefaléia prévios, porém menos acentuados e sem PV permanente. Relatou uso de analgésicos e sulmatriptan, com melhora da cefaléia e persistência da PV. A acuidade visual era de 20/20 em ambos olhos (AO) com a correção; pupilas isocóricas, com leve defeito pupilar aferente em OE; teste de Ishihara 2/10 placas; pressão intraocular de 17 mmHg (OD) e 15 mmHg (OE). Exame neurológico, ressonância nuclear magnética (RNM), Angio-RNM e fundoscopia normais(fig1). À campimetria, redução da sensibilidade ao estímulo luminoso em AO, mais acentuado em OE, com padrão de campo tubular (fig1). A tomografia de coerência óptica (OCT) revelou redução de camada de fibras nervosas da retina peripapilar e espessura de complexo de células ganglionares, mais acentuada em OE (fig2). A angiografia por OCT mostrou redução da densidade capilar em região macular de AO (fig3). A microperimetria era normal em OD e com acentuada redução em OE, especialmente no setor de hemiretina nasal (fig4).
DISCUSSÃO: No caso, a ER se deu inicialmente de forma binocular transitória, porém seguida por PV unilateral e persistente em OE. A prevalência de PV binocular em pacientes com migrânea é pouco documentada(2). A instalação de PV permanente se caracteriza como uma complicação rara e potencialmente grave da ER, provavelmente por infarto da retina provocado por VR prolongado. Porém, a fisiopatologia ainda não é clara(1,4,5). Um caso similar(6) relatou PV permanente no OE, com resultados de OCT e angiografia por OCT semelhantes a este.
CONCLUSÃO: O presente relato é relevante por se tratar de um caso raro de perda visual permanente secundária a ER. Os médicos oftalmologistas devem estar atentos à ocorrência deste evento em pacientes portadores de enxaqueca.
Referências Bibliográficas
1. Robbins M, Schwartz. Primary headache disorders and neuro-ophthalmologic manifestations. Eye Brain [Internet]. 2012;49. Available from: https://doi.org/10.2147/EB.S21841
2. Rozen TD. Migraine with binocular blindness: a clinic-based study. Headache. 2011;51(10):1529–36.
3. Grosberg BM, Solomon S, Friedman DI, Lipton RB. Retinal migraine reappraised. Cephalalgia. 2006 Nov;26(11):1275–86.
4. Istrate BM, Vîlciu C, Răgan C. Retinal migraine. Romanian Journal of Ophthalmology [Internet]. 2020;64(2):96–9. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7339700/
5. Maher ME, Kingston W. Retinal Migraine: Evaluation and Management. Current Neurology and Neuroscience Reports. 2021 May 11;21(7).
6. Cunha LP, Vessani RM, Monteiro MLR. Detecção de perda neural localizada através da redução da espessura macular na tomografia de coerência óptica: relato de caso. Arquivos Brasileiros de Oftalmologia. 2008 Oct;71(5):743–6.
Área
RETINA (Trabalhos)
Instituições
Universidade Federal de Juiz de Fora - Minas Gerais - Brasil
Autores
LARA MACHADO DE OLIVEIRA BRUGGER, MARIA EDUARDA CORRADI FERREIRA, ANA LUIZA FERNANDES OTTONI PORTO, PEDRO GUILHERME MAGELA MACHADO SOARES, JULIA ANDRADE MARQUES, JAYANA RODRIGUES LUCAS SOUZA, VICTORIA BRANDEL CRUZ, LEORNARDO PROVETTI CUNHA