Vitiligo Iriano em Paciente com Vitiligo Não Segmentar – Relato de Caso
O objetivo do presente relato é descrever uma manifestação ocular do vitiligo, tema pouco documentado na literatura. Não há conflitos de interesse.
JSL, 38 anos, masculino, casado, natural e procedente de Belo Horizonte (MG), aposentado, comparece para avaliação oftalmológica de urgência devido à fotofobia intensa, sem alívio com o uso de lentes fotossensíveis ou com maior índice de proteção UV.
Portador de hemoglobinopatia falciforme (HbS) em tratamento desde 1995. Diagnosticado em 2008 com retinopatia falciforme grave e, desde então, submetido a 12 sessões de fotocoagulação a laser em ambos os olhos. Em 2012, apresentou edema macular que evoluiu bem, sem sequelas visuais. Possui hipoacusia e história de necrose da cabeça de fêmur bilateralmente, além de múltiplos infartos em costelas e ossos longos.
Também porta vitiligo não segmentar em tratamento com PUVA, com boa resposta para lesões cutâneas.
Ao exame, notou-se midríase persistente. Acuidade visual em ambos os olhos 20/60, sem correção. À biomicroscopia, vitiligo na íris e catarata incial bilateralmente. Pressão ocular de 13 mmHg em ambos os olhos. O mapeamento da retina revelou, em olhos direito e esquerdo, disco óptico plano, róseo, com escavação fisiológica; emergência vascular centralizada; estrias angioides; coriorretina bem perfundida; mácula com o brilho reduzido devido a sequelas de edema macular por micro-obstruções venosas de repetição; rede vascular afilada e tortuosa; média e extrema periferia com cicatrizes de panfotocoagulação bloqueando numerosas áreas com sea fans e áreas de isquemia e vítreo transparente. A presença de estrias angioides está relacionada à retinopatia falciforme.
Diagnosticado vitiligo iriano e prescritas lentes filtrantes com diâmetro pupilar de 3 mm, com as quais o paciente adaptou-se bem. Atualmente, está estável e sem complicações.
O vitiligo acomete, principalmente, melanócitos da pele, mas também pode afetar ouvidos, olhos e meninges. O envolvimento ocular se dá, na maioria das vezes, pela despigmentação do EPR e da coroide, alteração reportada em 30-40% dos pacientes, sem interferências na acuidade visual. Também é relatada maior frequência de uveíte. Neste caso, o paciente apresentou quadro de acometimento iriano, com intensa fotofobia e midríase persistente, com melhora completa com o uso de lentes filtrantes. Conclui-se que pacientes com vitiligo devem ser submetidos à avaliação oftalmológica de rotina, pois apresentam maior risco de doença ocular.
Geral
Lívia Passini Guimarães Gomes, Gretchen Gomes Batistella