Relato de caso: Mucormicose rino-orbitária
Relatar o caso de um paciente com quadro de mucormicose rino-orbitaria que é uma afecção pouco frequente, cuja importância decorre da evolução rapidamente fatal se não diagnosticada e tratada precocemente.
G.R.F., 57 anos, masculino, deu entrada no PS com edema agudo bilateral em região periorbitária há 1 dia, pior à direita, hiperemia e dor local. História de obstrução nasal de longa data, com piora recente. Acuidade visual: OD: SPL; OE: pior que 20/400. Exame oftalmológico: OD: edema e hiperemia periorbitários, proptose, oftalmoplegia e midríase paralítica; OE: discreto edema e hiperemia periorbitários, movimento preservado e reflexos pupilares presentes. Fundoscopia: OD: palidez de papila; OE: sem alterações. Triagem infecto-metabólica: leucocitose com desvio à esquerda, glicemia de 320mg/dl e acidose metabólica. Tomografia de seios da face e órbita: espessamento da gordura periorbital, processo inflamatório intenso acometendo até ápice orbitário à direita. Indicado internação em UTI e feitas medidas para compensação da condição de cetoacidose diabética e antibioticoterapia EV. Abordagem cirúrgica endoscópica pela equipe de otorrinolaringologia, detectou edema importante de mucosa nasal, secreção espessa drenando em meato médio bilateral, necrose de região septal e de corneto nasal médio à direita. Realizado biópsia de mucosa nasal e debridamento cirúrgico de área necrótica. Diante da hipótese diagnóstica de infecção fúngica invasiva, iniciado uso de anfotericina B (1,2 mg/Kg/dia) e medidas clínicas. Anatomopatológico: mucormicose invasiva e processo inflamatório crônico ativo abcedado com focos de necrose. Evolui com estabilidade clinica e manutenção do quadro oftalmológico até D30 de antifúngico, apenas com melhora discreta do edema e hiperemia periorbitários.
A sobrevida do paciente do caso resultou do controle da descompensação da doença de base previamente desconhecida, o debridamento cirúrgico e a utilização de anfotericina B em dose efetiva, com pequeno envolvimento cerebral. O acometimento orbitário precoce com perda rápida da visão, porém, resultou em um prognóstico oftalmológico reservado independente das medidas tomadas. O diagnóstico precoce é chave para a redução da morbidade e dos índices de letalidade. Do exposto, há que se ter em mente a importância crescente da mucormicose como evento possível em pacientes com diabetes mal controlados e pacientes em imunossupressão, e do diagnóstico precoce como fundamental para a melhora da sobrevida.
Geral
Complexo Hospitalar Ouro Verde - São Paulo - Brasil
Lucas Belchior de Castro, Bruna Alessandra Maranzatto Podadeira, Letícia Rivelli Moreira, Gabriel Mota Campos, Sérgio José de Souza Mais Filho, Eudson Haroldo de Oliveira Costa