Fístula Carotídeo-Cavernosa: um relato de caso.
Mostrar a importância desse diagnóstico diferencial na síndrome do olho vermelho.
M. J. S. R., 71 anos, feminino, admitida no pronto atendimento do IPSEMG em 05/07/18 para investigação de edema, quemose, proptose e sensação de pulsação em OE iniciados 2 meses antes, sem diagnóstico após várias consultas com oftalmologistas. Alegava diplopia e piora da visão do OE estáveis no início da evolução, em uso de Brinzolamida 10mg/ml de 12/12h no mesmo olho.
Ao exame oftalmológico apresentava acuidade visual corrigida de 20/20 OD e 20/30 OE; proptose e ingurgitamento episcleral em OE; versões normais; reflexos pupilares normais; catarata córtico-nuclear incipiente em AO; PIO de 14 mmHg em OD e 24 mmHg em OE; tortuosidade e dilatação venosa à fundoscopia em OE; em AO disco de aspecto usual, relação escavação-disco 0,4 , mácula sem atipias e reflexo preservado. Foi suspeitada fístula de baixo débito, confirmada com angiografia.
Após a alta hospitalar foi acompanhada ambulatorialmente, acrescentado bimatoprosta 0,3mg/ml à noite no olho acometido. Realizado Doppler de artéria oftálmica, ciliares posteriores, veia central da retina e veia oftálmica, que evidenciou aumento de velocidades de fluxo na artéria oftálmica esquerda, aumento da resistência ao fluxo na artéria central da retina e arterialização do fluxo da veia oftálmica superior.
Evolução favorável, com melhora da hiperemia conjuntival, sem dor ocular ou cefaleia. Na última consulta, em 09/08/18, a paciente apresentava discreta hiperemia conjuntival em OE, sem alterações nos demais exames oftalmológicos e bom controle da PIO.
As fístulas carotídeo-cavernosas desenvolvem-se a partir de uma comunicação anômala entre a artéria carótida e o seio cavernoso. Pode ser decorrente de causas traumáticas ou espontânea, sendo essa causa mais comum em mulheres hipertensas >50 anos. O espectro de manifestações oculares é grande, desde a típica manifestação direta com a tríade clássica proptose pulsátil, quemose conjuntival e sopro orbitário até manifestações indiretas mais sutis que podem simular uma conjuntivite, episclerite, orbitopatia de Graves ou pseudotumor orbitário. O aumento da PIO é comum. A conduta depende do débito da fístula, podendo variar desde intervenções cirúrgicas ou abordagem transarterial, até conduta expectante aguardando o fechamento espontâneo, como neste caso, onde Doppler indica que não houve ainda normalização das características de fluxo, o que pode ser um critério para o acompanhamento.
Geral
Marcos Filipe de Almeida Andrade, Alexandre Simões Barbosa, Isabela Martins Melo, Jéssica dos Reis Santiago, Juliana Merlin Cenedezi, Jonas Gustavo Trindade de Abreu