Dados do Trabalho


Título

Esclerite necrosante em paciente com granulomatose com poliangeíte.

Objetivo

Relatar o caso de um paciente com esclerite necrosante, levando ao diagnóstico de granulomatose com poliangeíte (GPA), também chamada de granulomatose de Wegener.

Relato do caso

Paciente masculino, 40 anos, proveniente de Sete Lagoas-MG, procurou o serviço de urgência do Hospital São Geraldo com queixa de dor e de vermelhidão em olho esquerdo iniciadas há 4 meses. Referiu tratamento prévio com antibióticos e com corticosteroides tópicos sem resposta satisfatória. Acompanhante relatou ainda prostração, inapetência e emagrecimento nos últimos meses. Em relação à história pregressa, paciente apresenta déficit cognitivo e motor leve secundário à sequela de tétano neonatal, referia também sinusite crônica. Ao exame oftalmológico, apresentava: AV de 20/20 em OD e 20/100 em OE, pressão ocular de 12/03 mmHg; à biomicroscopia anterior, esclerite necrosante em extensa área temporal, córnea transparente com infiltrados límbicos, RCA e flare 1+/4+; descolamento coroideano periférico temporal, sem alterações em polo posterior. Optado por internação para investigação diagnóstica. Exames laboratoriais iniciais evidenciaram PCR elevado, neutrofilia, plaquetose e hematúria dismórfica. Realizada TC de tórax que evidenciou massa pulmonar e nodulações difusas. Foi isolado Corynebacterium sp em raspado escleral e apesar da manuntenção de moxifloxacino tópico, houve piora do quadro com afinamento escleral. Apesar de a biópsia de mucosa nasal ter se mostrado inconclusiva, a detecção de c-ANCA e anti-PR3 positivos levaram ao diagnóstico de GPA. Foi iniciada predinisona oral, mas adiou-se a pultoterapia até a exclusão de infecções sistêmicas pela equipe de clínica médica. O paciente evoluiu com perfuração ocular, sendo realizado transplante corneoescleral para recobrimento. Após alta hospitalar, foi mantida prednisona oral e pulsoterapia mensal com metilprednisolona e ciclofosfamida. No 3º mês de seguimento, foi detectada perfuração do transplante com necessidade de novo enxerto. Paciente mantém acompanhamento no setor de córnea e uveíte do Hospital São Geraldo.

Discussão

Esclerite anterior necrosante está associada à morbidez ocular grave e a identificação da causa subjacente é importante para o tratamento adequado. No caso em questão, levou ao diagnóstico de GPA, uma doença sistêmica associada à alta taxa de mortalidade na ausência de tratamento, por isso é fundamental ao oftalmologista reconhecer e intervir corretamente nesses casos.

Área

Geral

Autores

Fellype Borges de Oliveira, Anna Christina Higino Rocha, João Pedro Dayrell de Magalhães Viera