Esclerite Posterior por Tuberculose
Relatar um caso de esclerite posterior por Mycobacterium tuberculosis, apresentação bastante rara, com excelente evolução clínica¹.
Paciente , 71 anos, sexo feminino, negra, técnica de enfermagem, queixava de edema palpebral, com dor e baixa acuidade visual em olho direito há 7 dias. Negava febre, astenia ou perda de peso. Portadora de hipertensão arterial e alérgica a camarão, com episódio prévio de anafilaxia.
Ao exame oftalmológico apresentava acuidade visual com correção de conta dedos a 1 metro em OD e 20/25 em OE, reflexos pupilares 4+/4, sem alterações ou dor à motilidade ocular extrínsica. À biomicroscopia anterior, apresentava quemose inferior 2+/4+, ausência de reação de câmara e catarata +/4+ em OD; OE sem alterações. Fundoscopia evidenciava haze vítreo +/4+, com elevação macular amarelada e dobras de coróide em polo posterior em OD. O OCT demonstrava espessamento retiniano, com elevação da coróide em mácula. Foram solicitadas sorologias infecciosas, raio-x de tórax e PPD. Quatro dias após, a paciente retornou com resultados das sorologias negativas, raio -x sem alterações e aguardava resultado do teste tuberculínico. O mapeamento de retina se mantinha semelhante, exceto pelo surgimento de descolamento de coróide 360 graus, com DR seroso adjacente inferior. O ultrassom evidenciou DC seroso, com espessamento da esclera e infiltração de líquido subtenoniano. Retornou 3 dias após, com resultado de PPD de 20mm. Ao OCT surgiu DR seroso subfoveal. Com a hipótese de esclerite posterior por tuberculose, foi encaminhada ao posto de saúde para tratamento específico e retorno para introdução de corticoterapia após início das drogas. No retorno, em D4 de esquema RIPE, já apresentava AV de 20/100, com resolução do descolamento de coróide e redução do espessamento e fluido subretinianos. Foi iniciado prednisona 1mg/kg/dia com regressão semanal. No D24 de RIPE, usando 40 mg de prednisona, apresentava AV de 20/40, com alguns exsudatos em mácula e OCT com discreto espessamento retiniano, sem fluido. Ao longo do tratamento manteve esta AV, semelhante ao que tinha antes da doença.
A esclerite posterior é na maioria das vezes idiopática, mas pode estar associada a doenças autoimunes ou infecciosas, como herpes simples e zoster, sífilis e tuberculose. Considerar os diagnósticos diferenciais é fundamental, uma vez que o tratamento com corticóides isoladamente nesse caso poderia piorar a doença.² ³
Geral
Hospital de Transplantes Euryclides de Jesus Zerbini - São Paulo - Brasil
Robson Lorenz, Denise Pardini Marinho , Marcus Prado Guerreiro, Aline Azevedo Yabrudi, Mauricio Carvalho Pasin, Weldon Silva Castro