Dados do Trabalho

Título

Anisocoria por atrofia iriana em paciente com Anemia Falciforme

Objetivo

Relatar o caso de uma paciente portadora de anemia falciforme que apresentou quadro neurológico agudo associado a uma anisocoria de início indeterminado.

Relato do caso

Paciente com histórico de doença falciforme (Hbss) iniciou quadro de cefaleia intensa, náuseas, vômitos, febre e anisocoria. Foi ao pronto atendimento da cidade de origem e encaminhada em seguida ao HC/UFMG. Encontrava-se confusa, febril e sem sinais de meningismo. Foi submetida a propedêutica complementar inicial com TC e angio ressonância de encéfalo, RM de órbitas e punção lombar. Os exames de imagem eram normais e a análise do líquor demonstrou proteinorraquia com aumento de celularidade. LCR: glicose 50, proteínas totais 111, hemácias 1429, células 41 (N55 L39 M5 LA 1) Iniciado tratamento empírico com antibióticos e antirretrovirais endovenosos. Apresentou boa resposta ao tratamento instituído com resolução completa do quadro, exceto pela manutenção da anisocoria, o que levou à solicitação de uma interconsulta com a oftalmologia. Encontrava-se sem queixas oftalmológicas no momento da avaliação. Apresentava anisocoria com pupilas de 3mmOD/4mmOE. Os Reflexos pupilares em resposta a luz e à acomodação estavam discretamente lentificados no olho esquerdo, mas não havia dissociação acomodação-convergência. Acuidade visual 20/20 em AO. Po 15/16mmgHg. Biomicroscopia do segmento anterior: AO olhos calmos, córneas transparentes, atrofia de íris bilateral assimétrica com perda mais acentuada de estroma iriano em margem pupilar do olho esquerdo, ausência de células ou fibrina na câmara anterior, sem células no vítreo anterior. Fundoscopia demonstrou vasos retinianos dilatados e tortuosos bilateralmente. Após avaliação pupilar cuidadosa, foi afastada uma anisocoria de origem neurológica e levantada a hipótese de anisocoria secundária a atrofia iriana assimétrica causada pelos episódios recorrentes de isquemia iriana relacionados à doença de base da paciente.

Discussão

O domínio da semiologia pupilar é de extrema importância para o oftalmologista. Algumas alterações pupilares, como a anisocoria, apresentam diagnósticos diferencias de difícil distinção. A avaliação cuidadosa da íris e da margem pupilar com atenção ao tamanho e ao formato das pupilas, a investigação dos reflexos pupilares e os testes de estimulação com fármacos são de grande importância na correta avaliação dos casos. O achado de atrofia iriana em pacientes com doença falciforme apresenta correlação com à retinopatia falciforme.