Granuloma de coroide causado pela infeção de Mycobacterium fortuitum.
Relatar o caso de um paciente com granuloma de coroide por M. fortuitum.
Paciente de 36 anos, sexo masculino, encaminhado ao Hospital da Lagoa devido a insuficiência adrenal por uso crônico de prednisona e hipogonadismo. Fez uso de anabolizantes e injeções de óleo mineral intramuscular nos membros por 15 anos. Há 3 meses apresentava cefaleia, febre, sudorese noturna, perda de peso e dores nos membros. Sem outras comorbidades. Internou para investigação.
Apresentou coleções nos membros, leucocitose e PCR elevada. Iniciou-se Piperacilina / Tazobactam e vancomicina, sem melhora. Hemocultura negativa, sorologias negativas para HIV e sífilis. TC de tórax e crânio normais. Líquor sugestivo de micobactéria. Acuidade visual, biomicroscopia e PIO normais. Fundoscopia com lesões sub-retinianas elevadas, arredondadas e amareladas na região nasal do olho direito e superiores à mácula no olho esquerdo. Na angiofluoresceinografia, as lesões mostravam vazamento. A OCT revelou líquido sub-retiniano e lesões de coroide com elevação do EPR. Considerando as lesões na retina, sintomas sistêmicos e líquor, pensou-se em tuberculose sistêmica com granuloma de coroide, iniciando-se rifampicina, isoniazida, pirazinamida e etambutol. Mas após 1 semana, a PCR para Bacilo de Koch (BK) no líquor foi negativa, considerando-se também a possibilidade de micobacteriose atípica. Adicionou-se o tratamento empírico com amicacina e claritromicina.
Após a mudança da terapêutica, houve melhora clínica, os leucócitos reduziram de 16.500 para 7.800 em 2 dias. Após 3 semanas, a cultura da coxa mostrou o crescimento de micobactéria não tuberculosa e o agente M. fortuitum foi isolado. Neste momento, após 14 dias de Piperacilina / Tazobactam e vancomicina, 30 dias de tratamento para BK e 23 dias de amicacina e claritromicina, a terapia infecciosa foi substituída por doxiciclina e ciprofloxacina via oral, para programação de alta.
Após 6 meses, a fundoscopia revelou regressão das lesões. A angiofluoresceinografia ainda mostrou vazamento discreto e a OCT, regressão da elevação do EPR e do fluido sub-retiniano, substituídos por áreas de atrofia da retina.
O Brasil é uma área endêmica para a tuberculose. Considerando a imunossupressão crônica, os achados sistêmicos e retinianos, o tratamento para tuberculose foi iniciado, sem sucesso. Este caso relata um paciente imunossuprimido, desenvolvendo infecção sistêmica por micobacteriose atípica e granuloma de coroide associado.
Geral
JOAO PINTO SILVA NETO, LUIZ ROISMAN, kyra Nhayanna Coutinho MACHADO, Abraão Ferreira Sousa, LUCAS BALDISSERA TOCHETTO, MURILLO ROSA SILVA