Dados do Trabalho

Título

Neurorretinite como manifestação isolada de Doença de Lyme: relato de caso

Objetivo

Descrever caso de manifestação isolada atípica da Doença de Lyme

Relato do caso

L.A.R, 18 anos, masculino, compareceu a consulta oftalmológica com queixa de piora da acuidade visual (AV) há cerca de um mês, sem dor ou qualquer outro sintoma oftalmológico associado. Negava trauma ou quadros sistêmicos recentes como lesões cutâneas, alterações neurológicas, cardíacas ou articulares. Negava contato direto com animais, porém é frequentador de região de lagoa aos finais de semana. Ao exame apresentava AV corrigida de 20/40 (mal) no OD e 20/20 no OE.O exame biomicroscópico e a pressão intra-ocular (PIO) eram normais em ambos os olhos. Ao exame fundoscópico observava-se vítreo límpido, papilite severa, com exsudatos algodonosos peripapilares e hemorragias difusas, mácula sem alterações e ingurgitamento vascular no olho direito. No olho esquerdo não havia alterações. Foram levantadas as hipóteses de oclusão venosa e neurorretinite, de etiologia a esclarecer, e realizada extensa investigação infecciosa, hematológica e cardiológica. Paciente retornou quatro dias após para reavaliação, com piora da AV (20/60-2), edema macular importante e início da formação de estrela macular. Angiofluoresceinografia demonstrou edema de papila e vasculite. Demais exames estavam normais, com exceção de sorologia para Lyme (Borrelia burgdorferi), que apresentou-se positiva. Optou-se por internar o paciente e iniciar antibioticoterapia venosa (ceftriaxona 2g/dia EV por 10 dias) e corticoterapia oral. Paciente foi reavaliado durante internação, com melhora do aspecto fundoscópico e AV 20/40. Após ciclo de tratamento com ceftriaxona, teve alta hospitalar com doxaciclina e corticoide orais, este último em redução. Paciente segue em acompanhamento com sorologias seriadas e não apresentou recorrência do quadro.

Discussão

Embora o acometimento do segmento posterior não seja habitualmente uma manifestação isolada da Doença de Lyme, assim como em outras doenças infecciosas, tal quadro pode ocorrer. Desta forma, diante de alterações como as apresentadas acima, deve-se sempre realizar extensa investigação infecciosa na tentativa de se fazer o diagnóstico precoce e instituir o tratamento preconizado antes que os danos sejam irreversíveis.