Drenagem de líquido intraestromal com tamponamento de ar em ceratocone agudo e hidropsia corneana bilateral associado com fricção compulsiva dos olhos
Relatar um caso de ceratocone bilateral agudo em paciente com transtorno psiquiátrico que desenvolveu hidropisia corneana bilateral associada à fricção ocular, para discutir a patogênese e as alternativas de tratamento, incluindo a drenagem intraestromal de fluidos com tamponamento do ar.
C.L.L.P, 38 anos, sexo feminino, sem história familiar de ceratocone. Sem queixas oculares prévias. Apresentava acuidade visual melhor que 20/30 em ambos os olhos sem correção. Sem histórico de doenças oftalmológicas prévias. Em março de 2016, iniciou quadro psiquiátrico compulsivo, com ranger os dentes e fraturas. Em novembro de 2016, após teve piora do quadro psiquiátrico e começou a esfregar os olhos com força e continuamente.
Notou baixa acuidade visual em olho direito em dezembro de 2016 e em olho esquerdo em fevereiro de 2017, quando buscou atendimento oftalmológico.
Na primeira consulta, em fevereiro de 2017, apresentava acuidade visual de conta dedos a 50 cm em ambos os olhos. Após 7 dias retornou mantendo acuidade visual do olho direito e apresentando piora em olho esquerdo, que passou a movimento de mãos. Paciente mantinha o hábito de coçar os olhos com resultante piora progressiva da acuidade visual, até que em cerca de um mês após já não era capaz de deambular sem auxílio de terceiros devido à baixa visual.
Ao exame, apresentava acuidade visual de conta dedos em olho direito. À biomicroscopia apresentava edema e protrusão no centro da córnea, além de áreas de atalamia nasal e temporal com sinéquia córneo-iriana. Em olho esquerdo, a acuidade era de movimento de mãos e notava-se importante da área de edema e bolha de Humor Aquoso em meio ao estroma. Estabelecido o diagnóstico de hidropsia secudária a ceratocone agudo e frente à rápida progressão e refratariedade de tratamento clínico, optou-se por drenagem com incisões corneanas após injeção de ar na CA, realizado em março de 2017. Já no terceiro dia pós-operatório (DPO) houve redução expressiva do edema estromal conforme documentado por tomografia de segmento anterior realizada com Visante. A acuidade visual passou para 20/25 com “pin-hole” no 3º mês de pós operatório.
Traumas mecânicos sustentados, como fricção ocular, no contexto de um transtorno obsessivo compulsivo podem desenvolver um ceratocone agudo com hidropisia corneana subsequente. A drenagem intraestromal parece ser um método de tratamento efetivo em casos graves como esses.
Geral
Samuel Milanez de Carvalho , Rodrigo Magno da Silva Oliveira , Priscila Ferreira Cunha, Artur Willian Veloso, Frederico Bicalho DIas da Silva