Dados do Trabalho


Título

Panuveíte toxoplásmica bilateral fulminante em paciente imunossuprimido: um desafio diagnóstico e terapêutico

Objetivo

A toxoplasmose é a principal etiologia de uveíte posterior infecciosa no mundo, manifestando-se tipicamente como retinocoroidite focal necrosante unilateral. Objetiva-se relatar caso muito atípico de toxoplasmose ocular, em paciente que desconhecia sua coinfecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV).

Relato do caso

Trata-se de homem de 41 anos, com história de dor, baixa acuidade visual (AV), fotofobia e hiperemia súbitas em ambos os olhos (AO) há 6 dias. Havia sido admitido e tratado em outro serviço, para crise de glaucoma agudo, recebendo antiglaucomatosos e pulsoterapia com corticosteroide sistêmico. Negava outros sintomas/traumas/comorbidades. À admissão, apresentava hiperemia conjuntival intensa e reação fibrinóide na câmara anterior (CA) de AO, com hipópio no OD. A AV era vultos no no olho direito (OD) e conta-dedos (CD) junto à face, no olho esquerdo, tonometria (TA) de 2/8 mmHg e fundoscopia inviável em AO. Ecografia mostrou descolamento de retina/coroide em AO. Diante da gravidade, decidiu-se pela internação para investigação etiológica. Exames constataram soropositividade para o HIV e para toxoplasmose (somente IgG), excluindo anticorpos séricos contra Treponema pallidum e também DNA de herpersvírus (HSV, VZV, CMV, EBV e HHV6) no humor aquoso. Ao longo da internação, com a melhora da transparência da CA, foram observadas extensas lesões retinocoroideanas ativas temporais no OE, corroborando para o diagnóstico de toxoplasmose, considerando a PCR negativa para herpesvírus. Assim, foi indicado esquema clássico (sulfadiazina, pirimetamina e ácido folínico), além de início de terapia anti-retroviral Recebeu alta hospitalar no 36º dia, com AV de vultos no OD e CD a 1,5m no OE, TA de 05/11 mmHg, atrofia iriana difusa bilateral e catarata total no OD. A fundoscopia mostrava lesões em regressão no OE. Retorno após 2 meses da alta hospitalar mostrou ecografia com ecos vítreos em menor quantidade, retinas aplicadas, AV de 20/32 no OE e TA 06/14 mmHg, iniciando-se profilaxia com sulfametoxazol/trimetoprim. Nesse momento, as lesões do OE já estavam totalmente cicatrizadas. Reavaliação em 10 meses mostrou apenas progressão de catarata no OE

Discussão

A toxoplasmose ocular pode assumir apresentação atípica em pacientes imunossuprimidos e/ou recebendo corticoide em altas doses (que deve ser evitado até exclusão de infecção). Investigação cuidadosa para diagnóstico diferencial bem feito é fundamental, mesmo em indivíduos aparentemente imunocompetentes

Área

Geral

Instituições

Hospital São Geraldo / HC-UFMG - Minas Gerais - Brasil

Autores

Maria Fernanda Botelho Teixeira, Amanda Cristine Pereira Amorim, Helena Hollanda Santos, Rafael de Pinho Queiroz, Danuza O. Machado Azevedo, Daniel Vítor Vasconcelos-Santos